PARA PROFESSORES - HTPC - DIFERENÇA ENTRE TEXTO ORAL COM DESTINO ESCRITO E TEXTO DE MEMÓRIA
Ditado para o professor: produção de texto oral com destino
escrito
Ao desempenhar o papel de escriba e pedir que os estudantes
criem oralmente um texto, o docente trabalha o comportamento escritor, as
diferenças entre a linguagem oral e a escrita e a importância de sempre revisar
o que é produzido, individual ou coletivamente
Anderson Moço (novaescola@fvc.org.br)
PROFESSORA ESCRIBA Os alunos produzem um texto sobre os
polos norte e sul, ditando as informações que pesquisaram em duplas.
Por anos, o ditado foi patrimônio do professor: um texto ou
uma lista com o propósito de avaliar se a turma sabia escrever de acordo com as
regras da ortografia. Isso mudou - tanto nos objetivos como na forma. Hoje, uma
das quatro situações didáticas previstas pelos principais programas oficiais de
alfabetização inicial é pedir que os alunos produzam textos oralmente para se
perceberem capazes de escrever antes de estarem alfabetizados. Livres de
questões relacionadas à grafia e ao sistema de representação, eles se
concentram nos desafios da produção do texto: a definição do conteúdo, a
adequação a um gênero e a organização da linguagem escrita.
"É importante criar espaços para que as crianças usem a
linguagem escrita antes de ler e escrever, pois o conhecimento do sistema
alfabético não é pré-requisito para a produção de texto, ou seja, não é preciso
saber grafar as letras para organizar as ideias tal como se escreve",
explica Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisa Lá e professora do
Instituto Superior de Ensino Vera Cruz, ambos em São Paulo. A criança que não
sabe escrever de forma convencional está diante de uma situação-problema que
permite a ela observar o desenvolvimento de seu processo de aprendizagem e da
compreensão da linguagem escrita.
A elaboração de um texto vai muito além do registro gráfico.
Durante o ditado para o professor, os alunos comandam a produção do texto no
conteúdo e na forma - por meio das leituras e releituras do que já foi escrito
- e fazem adequações na produção: incluem pausas, ritmo e velocidade, repetem
partes quando necessário e distinguem o que dizem para ser escrito do que dizem
como interlocutores, mudando o tom de voz. O texto que será grafado pelo
professor precisa ter uma função comunicativa definida (a produção de um
bilhete, a recomendação de um livro lido etc.). Essa situação didática deve
fazer parte da rotina da alfabetização inicial, contemplando diferentes
gêneros.
Leitura e escrita na pré-escola
Aos 4 e 5 anos, os pequenos estão cercados por textos e têm
muitas ideias sobre a língua escrita. Conheça seis condições didáticas para
fazê-los avançar
Anna Rachel Ferreira (anna.ferreira@fvc.org.br)
Promover a produção de textos coletivos
Aos 4 e 5 anos, os pequenos estão cercados por textos e têm
muitas ideias sobre a língua escrita. Arquivo pessoal/Maria Aparecida Gonçalves
e Silvia Zamboni
Os bilhetes para os pais são escritos e revisados
coletivamente para depois irem ao caderno
No Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae),
da Universidade Federal de Goiás (UFG), a turma de 4 anos da professora Adriana
Ramos estava empolgada com o faz de conta que realizaria: um salão de beleza.
As crianças decidiram convidar os colegas da sala ao lado. "A gente pode
fazer um convite igual de aniversário", sugeriram. Em seguida, passaram a
ditar o conteúdo e, com base nas intervenções da educadora, inseriram
informações essenciais e chamarizes para os amigos. Já na EMEI Professora
Marianita de Oliveira Pereira Santos, em São José dos Campos, a 94 quilômetros
de São Paulo, Zenilda Ângela D’Almeida Teles propôs a leitura de gibis, mas não
havia exemplares em sala. "Eu tenho em casa", disseram os pequenos.
Então, a professora orientou que eles ditassem um bilhete solicitando aos pais
que emprestassem os gibis para ser usados na escola.
Por que é importante Ao ditar um texto e revê-lo, com base
nas intervenções do professor, a turma tem a oportunidade de pensar sobre as
diferenças entre o registro oral e o escrito. Também observa durante essa
atividade como se dá a organização da linguagem. "O que eu quero
dizer?", "Para quem estou escrevendo?", "Como transmitir
essa mensagem?". Tais perguntas e o próprio processo de revisão fazem
parte do comportamento escritor ao qual as crianças estão se aproximando, antes
mesmo de saberem escrever de forma convencional.
Atenção! O objetivo não é que os pequenos conversem sobre o
que precisa ser escrito, e sim que produzam e ditem o texto ao professor.
Assim, aprendem a diferenciar conversação e comentário de textualização.
Realizar propostas diferentes em duplas ou grupos
Aos 4 e 5 anos, os pequenos estão cercados por textos e têm
muitas ideias sobre a língua escrita. Silvia Zamboni e Marcelo Almeida
Em grupos, as crianças solucionam desafios de acordo com o
que sabem sobre a escrita
No Colégio Termomecânica, em São Bernardo do Campo, região
metropolitana de São Paulo, a professora Margarete Alves Molgora trabalha com
uma turma bastante heterogênea, apesar de todos terem 5 anos. Por isso, ela
propôs desafios diferenciados durante a atividade de escrita sobre o livro
Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (1832-1898). Após a leitura do
clássico literário, as crianças foram divididas em duplas, de maneira a
trabalhar junto com outras que tivessem hipóteses de escrita próximas. Assim,
cada uma teve aproveitada toda a sua capacidade e se sentiu estimulada a
escrever sobre a mesma temática. Uma parte da sala registrou no caderno o
início da história, outro grupo foi desafiado a criar legendas descrevendo as
características dos personagens e um terceiro elaborou uma lista das pessoas e
dos animais presentes no livro. "Fui intervindo em cada grupinho conforme
os questionamentos e as ideias apresentadas pelos pequenos", comenta a
docente.
Por que é importante Serem expostas a desafios adequados a
sua hipótese de escrita faz com que as crianças se motivem a investigar.
Trabalhando em duplas ou grupos com ideias próximas às delas, terão a
oportunidade de defender posições e ouvir as dos companheiros, desenvolvendo
novas estratégias para solucionar as questões típicas do uso da linguagem.
Desse modo, meninos e meninas progridem na aprendizagem.
Atenção! As crianças já alfabéticas precisam de outros tipos
de desafio para que avancem. Por isso, a necessidade de atividades
diferenciadas em relação aos que ainda não construíram a base alfabética.
7 perguntas sobre textos memorizados na alfabetização
Respostas às dúvidas mais comuns sobre como e por que usar
textos que as crianças sabem de cor no ensino da leitura e da escrita
Beatriz Vichessi (bvichessi@fvc.org.br). Colaborou Ana Rita
Martins
Ilustração: Bruno Nunes
Interpretações equivocadas sobre o uso de parlendas,
cantigas de roda e outros textos que as crianças sabem de cor na alfabetização
ainda são comuns. Para responder às sete dúvidas mais frequentes sobre o
assunto, NOVA ESCOLA consultou a bibliografia disponível sobre o tema e a
especialista em alfabetização Telma Weisz.
1 Por que propor atividades de leitura e de escrita?
"Elas mobilizam saberes distintos e consequentemente
ensinam coisas diferentes", explica Telma. Para ler textos que sabem de
cor, as crianças têm de fazer a correspondência entre as partes do texto que já
sabem com os trechos escritos, descobrindo a relação entre fonema e grafia,
conhecendo letras novas e como se dá a segmentação das frases em pedaços
menores e independentes, as palavras (leia a sequência didática). Já na
situação de escrita, precisam colocar em cena o nível do conhecimento do
sistema alfabético e o que já sabem a respeito da escrita convencional. Com
baese em tudo isso, fica claro que ambas devem ser realizadas em sala e que uma
não é pré-requisito para outra.
2 Quais textos memorizados devo usar para alfabetizar?
Qualquer cantiga de roda, parlenda ou adivinha que os alunos
apreciem. O importante é que todos eles saibam o conteúdo de cor e mentalmente.
O que define a complexidade da atividade são as particularidades do material e
as interações do educador, responsável por criar boas situações de
aprendizagem.
3 É interessante propor que escrevam em quartetos?
Não. O processo de interação entre as crianças é muito
importante e, quando se trabalha com muita gente reunida, ele não é
satisfatório. Escrever a oito mãos é difícil até para os adultos. É melhor
organizar duplas, levando em conta as hipóteses de escrita (pré-silábica,
silábica, silábico-alfabética e alfabética) para que o trabalho seja realmente
produtivo.
4 Na leitura, o que precisa ser problematizado?
Encontrar partes da totalidade ou do verso levando em conta
o que os alunos já sabem. Não se trata de caça-palavras, mas de uma situação
que faz o grupo enfrentar desafios a respeito da relação entre parte e todo.
Por exemplo, perguntar onde está escrito domingo em "Hoje é domingo,/ pede
cachimbo". Para responder, as crianças têm de fazer corresponder o falado
com cada pedaço escrito. Quer dizer, precisam localizar o verso e depois o que
foi perguntado. Têm de pensar como dividir o que falam para que encontrem a
palavra no exato lugar em que ela está.
5 E na de escrita? Quais são os desafios?
As crianças, para escrever, precisam pensar quais e quantas
letras usar e em que ordem colocá-las. Em fase de alfabetização, não é óbvio
que tudo o que se fala possa ser escrito na ordem em que é dito. Outros pontos
interessantes para explorar com eles são a escrita de artigos, monossílabos e
palavras curtas, já que isso vai contra a ideia que os alunos têm que para
escrever são necessárias no mínimo três letras.
6 A lista de nomes da turma pode servir de apoio?
Para atividades que tenham como foco a leitura, não.
"Lê-se para escrever, mas não para ler", diz Telma. Para localizar
fragmentos do texto, os alunos precisam pensar em como vão partir do falado
para tal, o que vão considerar como um pedaço para achar todos os pedaços. Não
é necessário buscar pistas fora do material: o problema é descobrir onde está
escrito, não o que está escrito. Para desafios que envolvem a escrita, sim:
pesquisar em fontes externas o jeito certo de escrever o fragmento que se quer
é útil. Para escrever "cachorrinho está latindo", se as crianças
recorrem à lista de nomes e encontram Camila e Karina, o professor tem uma
situação para discutir.
7 É válido o grupo ditar para o professor escrever?
Sim, desde que ele atue como se só soubesse as letras, ou
seja, não deve agir como um escriba. Tem de ser simplesmente a mão que escreve
o que os estudantes ditam, incluindo aí os espaços entre as palavras. Porém é
importante observar que, se existirem alunos alfabéticos na sala, a atividade
não funcionará. Facilmente eles darão conta do desafio sozinhos, ditando letras
ao educador que os demais nem conhecem ainda.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Psicopedagogia da Linguagem Escrita, Ana Teberosky, 151
págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 29 reais
INTERNET
Texto Situações de Leitura na Alfabetização Inicial: A
Continuidade na Diversidade, de Mirta Castedo.
Texto Lectura de un Texto que se Sabe de Memória, de Mirta
Castedo (em espanhol).
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